terça-feira, 27 de dezembro de 2016

PRECE ANIMAL


(Texto extraído do livro “O prazer de partilhar” de Walter José de Faé)
Trata-me com carinho querido amigo, porque não há nada no mundo mais agradecido do que meu coração.
Não machuque meu espírito com a vara porque, embora eu esteja lambendo as suas mãos entre uma e outra pancada, a sua paciência e compreensão vão me ensinar mais rápido aquilo que você quer que eu aprendo.
Nem sempre eu estou certo, mas estou sempre querendo perdoar e ser perdoado.
Fale sempre comigo, pois sua voz é a música mais doce, como você já deve ter percebido pelo abanar fogoso da minha cauda quando ouço seus passos.
Por favor, leve-me para dentro quando estiver frio e chovendo, pois sou um animal doméstico, não mais acostumado ao frio e à chuva.
Peço-lhe nada mais do que o privilégio de sentar-me aos seus pés, ao lado do coração.
Mantenha o meu pote cheio de água fresca, pois não posso falar quando tenho sede.
Dê-me comida fresca para que eu fique bem e possa brincar e atender aos seus comandos, para andar ao seu lado e estar apto a lhe proteger com minha vida, caso você esteja correndo perigo.
Não posso falar quando preciso de cuidados médicos ou quando devo tomar injeções; olhe para mim e observe se estou indiferente, fugindo da comida e leme-se ao nosso amigo veterinário, para uma consulta periódica.
E meu amigo, quando eu estiver velho e não mais gozando de boa saúde, ouvindo e vendo mal, não faça nenhum esforço heroico para me manter vivo. Eu não vou estar me divertindo. Por favor cuide para que minha vida seja suavemente tirada. Devo deixar esta terra sabendo que meu destino sempre esteve seguro em suas mãos. Tudo o que lhe peço é que fique comigo até o fim, segure-me firme e fale comigo até que meus ouvidos não mais ouçam e meus olhos não mais vejam.


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